Dados do Trabalho

Título

Lesão de barorreceptor carotídeo secundária a radioterapia cervical em idoso: a propósito de um caso

Introdução

Os cânceres de cavidade oral (CCO) e laringe têm incidência estimada de 18.000/ano no Brasil, dos quais o carcinoma epidermoide é o mais frequente. Os principais fatores de risco para CCO são o tabagismo e o etilismo, em especial pelo fator sinérgico entre álcool e tabaco. O tratamento com quimioterapia (QT) e radioterapia (RT) combinadas prolonga a sobrevida em pacientes com CCO. Entretanto, os efeitos adversos da irradiação cervical são comuns, em especial nos órgãos e tecidos adjacentes ao sítio irradiado. São descritas lesões carotídeas, em longo prazo, principalmente a doença aterosclerótica e consequentemente lesão de barorreceptores.

Descrição do Caso

Masculino, 70 anos, ex-etilista, ex-tabagista, hipertenso, dislipidêmico, com histórico de RT radical cervical a direita associada a QT aos 49 anos para tratamento de carcinoma epidermoide de laringe supraglótico e novamente irradiado com 60Gy concomitante a QT.  Foi atendido em consultório para investigação de síncope ocorrida três dias antes, sem pródomos, com duração aproximada de um minuto. Ao exame físico observou-se hipotensão ortostática (HO), sem alteração da frequência cardíaca (FC) e hipertensão supina. Foi solicitada monitorização ambulatorial da pressão arterial de 24 horas que evidenciou períodos alternantes de hipotensão e hipertensão (principalmente supina), e variação da FC sem fatores desencadeantes identificáveis. Doppler de artérias cervicais que mostrou presença de placas não obstrutivas. Perfil eletrolítico e demais exames laboratoriais sem alterações.

Hipótese(s) diagnóstica(s)

Lesão de barorreceptor carotídeo secundária a radioterapia cervical em idoso como causa de HO.

Conduta(s) adotada(s)

O caso relatado exemplifica a lesão de barorreceptor carotídeo como sequela tardia de RT cervical. A alteração do barorreflexo carotídeo causa labilidade da pressão arterial, HO e sintomas como cefaleia, palpitação, diaforese e labilidade emocional semelhante a ansiedade aguda ou crise de pânico. O diagnóstico diferencial com feocromocitoma é importante por semelhança de alguns sintomas, tendo sido excluído na investigação diagnóstica.

Conclusões

Estudo prospectivo sobre a incidência desta complicação e sua correlação com a rigidez carotídea pós irradiação se faz necessário. Chama atenção também a necessidade para que os médicos que fazem o acompanhamento de pacientes que foram submetidos a RT cervical tenham em mente a possibilidade de lesão iatrogênica de barorreceptor de início tardio.