Dados do Trabalho

Título

Ponto de corte da variabilidade de pressão arterial na predição de eventos cardiovasculares na doença renal crônica não dialítica

Introdução

A pressão arterial (PA) é um processo fisiológico caracterizado por sua elevada variabilidade, a qual pode ser avaliada por meio da monitorização ambulatorial de pressão arterial (MAPA) de 24 horas (curto prazo) ou por períodos de aferição padronizada em consultório por semanas ou meses (a longo prazo). Admite-se que oscilações da variabilidade da PA podem refletir estresse sobre o sistema cardiovascular e, assim, aumentar eventos cardiovasculares, independentemente dos valores médios de PA.  A doença renal crônica (DRC) é um importante fator de aumento de risco cardiovascular e renal, sendo a hipertensão arterial o fator de risco tratável mais relevante para prevenir eventos cardiovasculares e progressão da insuficiência renal nos pacientes com DRC.

Objetivo

 Apesar de haver razoável concordância na literatura a respeito da associação entre variabilidade de PA de longo prazo e eventos cardiovasculares na DRC, as evidências do papel da variabilidade de curto prazo na gênese desses eventos, todavia são obscuras. Este estudo investiga a partir de qual valor a variabilidade de pressão arterial está relacionada ao aumento de eventos cardiovasculares em pacientes com DRC não dialítica.

Método

Realizou-se estudo de coorte retrospectiva incluindo 1308 exames de MAPA no período de janeiro de 2002 a fevereiro de 2014, sendo excluídos 552 exames e incluídos o total de 756 exames.

Resultados

O tempo de seguimento médio foi 106 meses, com mediana de 119 meses, variando de 1 até 206 meses. Dentro desse período, considerando o grupo DRC, ocorreram 77 eventos fatais, dos quais 23 foram por causa cardiovascular. O desvio padrão (dp), bem como o coeficiente de variação (CV) da PAS em vigília se associaram a mortalidade por todas as causas na casuística geral e a associação entre CV da PAS e mortalidade se manteve mesmo após ajuste para PAS de 24 horas. Quanto à mortalidade por causa cardiovascular, apenas o desvio padrão da PAS em vigília apresentou tal associação. A análise ajustada para PAS em 24 horas mostrou associação entre desfechos e PAS de 24 horas. Em pacientes com DRC, apenas o desvio padrão da PAS em vigília se associou à mortalidade por todas as causas, porém a associação não se manteve após ajuste para PAS de 24 horas. Não houve relação entre desfecho cardiovasculares e variabilidade de PA em período de sono, tanto na população geral, quanto nos pacientes com DRC.

Conclusão

Não foi possível estabelecer correlação entre variabilidade PA e desfecho cardiovascular em pacientes DRC até o momento.