Dados do Trabalho
Título
A Hipertensão Arterial Resistente à luz do Racismo Estrutural e Autopercebido
Introdução
A hipertensão arterial resistente (HAR) é associada a maior morbimortalidade cardiovascular (CV) e uma de suas principais características clínicas é a afrodescendência. As particularidades genéticas da população negra na distribuição de tecido adiposo e nos fatores de risco do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) explicam parcialmente essa disparidade racial na pressão arterial (PA). Determinantes sociais e a discriminação racial têm sido reconhecidos como possíveis contribuintes para a maior prevalência de hipertensão na população negra e podem traduzir as manifestações de diferentes formas de racismo, porém há poucos estudos em HAR.
Objetivo
Identificar, em uma coorte de hipertensos resistentes, o perfil clínico de diferentes grupos raciais relacionando-o às manifestações do racismo estrutural e autopercebido.
Método
Estudo transversal observacional com hipertensos resistentes de um centro especializado em um hospital universitário. São registrados dados sociodemográficos (para avaliação do racismo estrutural), fatores de risco e doença CV prévias, medidas antropométricas, PA de consultório e MAPA e exames laboratoriais. A classificação por cor/raça é entre pretos, pardos ou brancos e esta análise inicial foi feita pela heteroidentificação racial. Estudo aprovado pelo CEP em 24/10/2019 sob o CAAE n° 18385219.7.0000.5257.
Resultados
Na análise primária pela heteroidentificação, foram incluídos 340 participantes (73,8% mulheres, idade de entrada de 51,8 ± 7,8 anos), sendo 157 brancos, 81 pardos e 102 pretos. A frequência de obesidade abdominal e doença coronariana prévia foi maior em pretos (86,3%) e pardos (27,2%), respectivamente. Pardos apresentaram maiores valores de PA sistólica (143 mmHg) e diastólica (86 mmHg) de vigília na MAPA e pretos apresentaram mais padrão não dipper (64,7%). Não houve diferença quanto à PA de consultório, escolaridade e vínculo empregatício, porém negros (pretos e pardos) utilizavam mais drogas anti-hipertensivas e tiveram maior prevalência de hipertensão refratária (17,5%).
Conclusão
Negros apresentam disparidades raciais no controle de PA em relação a brancos, porém a heteroidentificação não é capaz de elucidar completamente a relação entre raça, determinantes sociais de saúde e HAR, tornando a autodeclaração fundamental nesta análise.
Área
Hipertensão Arterial
Categoria
Pesquisa Clínica
Autores
Camila Bello Nemer, Lucilene Araujo de Freitas, Bernardo Chedier, Victor da Silva Margallo, Chiara Donnangelo Pimentel, Vitória Miriam da Silva de Sousa, Karina da Silva Aquino Muniz, Guilherme Campeche Santos, Carlos Henrique Jardim Duarte, Elizabeth Silaid Muxfeldt